O ventilador ia-se e vinha-se
repetitivamente, em um barulho frenético, que incomodava o ambiente. O garoto
que ali estava, o olhava fixamente e observara o mecanismo daquele objeto, sujo
de poeira, parafusado no canto alto da parede. O menino aparentava ter no
mínimo uns dez anos de idade, pardo, cabelos baixos e negros, na face havia uma
palidez continua, uma fundura no olhar, sua cabeça imitava o movimento do
ventilador.
Vieram
nos pensamentos do garoto lembranças de dias felizes, momentos que nunca mais
iriam acontecer, que foram embora para sempre. Uma lágrima escorreu no rosto
dele. Não havia barulho no pranto, nem desespero no penar, a dor que ali no
fundo da alma havia, era calada, porém muito doída.
O
movimento ainda era contínuo, ele ainda acompanhava o percurso do ventilador,
ele precisava de um ponto fixo para se guiar, aquele objeto rodante era ideal,
sempre voltava para o mesmo ponto. Centrado no mecanismo rotatório do objeto, o
garoto não se entontecia, nem se demonstrava enfadado com aquilo, estava ele
anestesiado.
Havia
no ambiente cheiro de velas, flores e choro abafado também, havia som de um
olhar cabisbaixo, tudo era silêncio, apenas o ventilador ecoava sombrio. Ninguém ousava a quebrar esse som ecoante. A
lágrima do rosto do menino secara, o movimento era o mesmo, de desalento total.
E então sua mãe o chamou, já era a hora de enterrar o corpo do homem que ali
estava sendo velado, do pai que se fora. Todos saíram aos prantos,
desconsolados, rezando a prece final.
Na
sala fria, ficara apenas o testemunho final, aquele que havia presenciado
várias outras partidas, o solitário ventilador fúnebre da funerária, rodando
sozinho, na mesma direção. (Ítalo Lima – 25/03/2013)
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