Ela era muda, assim desde nascida,
prostada da voz humana, com o sorriso apagado no rosto e o brilho esperançoso
no olhar, sempre à procura do amor vendido no mundo moderno, sentia inveja
desses casais aparentes, seguia ela na esperança de toda mulher.
Eis que um dia chega o primeiro a fazer
moradia em seu peito nobre. Então um sorriso largo se mostrou no semblante
dela. À princípio, como todos os namoros, pareceria ser eterno. Ele era
silencio e ela som, ainda sim desse modo, ela era a quem a mais se declarava
para ele, gesticulava incansáveis vezes um “eu te amo”, ainda sem saber o que
era o amor. Ele não prostado da voz humana, não sabia dizer tal declaração. Um
dia então, ela pôs na balança o som e o silencio, não sabia se quem calava, no
fundo poderia esconder um amor profano. Porem o silêncio pesou mais alto. Ela o
mandou embora.
O
segundo lhe chegou trazendo flores e falando de amores, gentil que só vendo,
era um cavalheiro de lendas antigas, exacerbado de tal modo, ela estranhou o
homem nobre, era o inverso do primeiro, insegura e com sequelas, ela seguiu o
ser literário, o flagrou entregando flores para outra iludida. Mais uma vez o
homem se ia da vida dela, se guardou deprimida.
O
terceiro lhe chegou como quem vem do nada, se olharam pela primeira vez, e as
almas de ambos se atraíram, carentes do ser interno, um reconheceu a solidão do
outro, ele não disse nada, ela também não gesticulou tal amor, apenas se
alimentaram daquilo que ninguém mais ousa se alimentar: fizeram um banquete,
ambos beberam da alma do outro e se revigoraram da solidão moderna. (Ítalo Lima
– 18/03/2013)
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