domingo, 23 de dezembro de 2012

Insano Viril


Certa vez, eu, caminhando pelas ruas de minha cidade, com a mágoa de um amor traído, desajustado e infeliz, meio inquieto talvez, não sabia ao certo como denominar essa dor nova, a qual eu nunca havia sentido antes. Era sufocante, agonizante, a dor de um amor frustrado. Olhava os bares de cada esquina, via as pessoas ali, bebendo por algum motivo desconhecido, talvez banal, ou quem sabe, por diversão. Olhava para cada um, imaginando na expressão do rosto alheio a feição de uma tristeza semelhante a minha, seguia em vão, frustrado pela busca perdida. Cruzei avenidas, cujo alguns carros buzinavam arduamente em minha direção, eu não tinha medo, enfrentava-os petulante, acenei com a mão para eles gestos feios. Olhava para os semblantes dos rostos deles, busquei novamente alguma dor parecida com a minha, mas não vi. Nos seus olhos refletiam apenas raiva. Segui avante. Em uma outra esquina, mais escura do que o normal, avistei uma bela moça, de longos cabelos negros, lisos. Ela era mais alta do que eu, com roupas curtas, cheias de brilho chamativos, unhas com esmalte ofuscantes. Salto alto. Era puta, talvez. Fiquei me recriminando por dar tal denominação, mas não veio em minha cabeça outra se quer. Cruzei com ela, pude sentir seu perfume doce, o qual me atraiu. Disfarcei. Aprecei meus passos. Longe dali, me veio na cabeça à curiosidade de saber com quantos homens já a possuiu. Vários, de certo. Muitos já devem ter se lambuzado com aquela mulher. Ainda sim, mesmo por esses motivos, não conseguia rejeitá-la. Pelo contrário, meu desejo pelo doce perfume só aumentou. Fato intrigante, é que, com apenas um homem minha ex-esposa se deitou, e só por isso, a reneguei. Vi-me em extrema contradição, desejando uma mulher que se deita com muitos, e deixando de lado, outra que apenas com um, me traiu. Meu martírio constante. Devo eu, ir atrás daquela que, denomino puta? Olhei para trás, ainda de longe podia vê-la, em pé, na mesma esquina. Andei alguns passou. Perto de mim, havia um mendigo, cuja idade me parecia longa. Percebendo minha agonia, me perguntou:
“O que te inquietas?”
“Estou em dúvida sobre a escolha da minha amada.” (Respondi sem medo)
“Pobre homem. Qual o seu medo?” (Perguntou-me o velho). 
“Não sei qual o meu medo.” (Falei com a voz tremula) 
“ O homem que não conhece seus medo, não conhece a si próprio.”
“ E qual o seu medo?” ( Perguntei em súbito)
“ Meu maior medo é entregar minhas fraquezas à alguém e me tornar vulnerável, uma pessoa fraca e insegura.”
            Não sabia mais o que falar, aquela resposta havia me impactado, aquelas palavras me soaram como um anestésico. Afastei-me dali aos poucos. Corri para longe. Longe da puta. Longe do velho. Depois disso tive a certeza que jamais devo me deixar enfraquecer assim.