Certa
vez, eu, caminhando pelas ruas de minha cidade, com a mágoa de um amor traído,
desajustado e infeliz, meio inquieto talvez, não sabia ao certo como denominar
essa dor nova, a qual eu nunca havia sentido antes. Era sufocante, agonizante,
a dor de um amor frustrado. Olhava os bares de cada esquina, via as pessoas
ali, bebendo por algum motivo desconhecido, talvez banal, ou quem sabe, por
diversão. Olhava para cada um, imaginando na expressão do rosto alheio a feição
de uma tristeza semelhante a minha, seguia em vão, frustrado pela busca
perdida. Cruzei avenidas, cujo alguns carros buzinavam arduamente em minha
direção, eu não tinha medo, enfrentava-os petulante, acenei com a mão para eles
gestos feios. Olhava para os semblantes dos rostos deles, busquei novamente
alguma dor parecida com a minha, mas não vi. Nos seus olhos refletiam apenas
raiva. Segui avante. Em uma outra esquina, mais escura do que o normal, avistei
uma bela moça, de longos cabelos negros, lisos. Ela era mais alta do que eu, com roupas
curtas, cheias de brilho chamativos, unhas com esmalte ofuscantes. Salto alto.
Era puta, talvez. Fiquei me recriminando por dar tal denominação, mas não veio
em minha cabeça outra se quer. Cruzei com ela, pude sentir seu perfume doce, o
qual me atraiu. Disfarcei. Aprecei meus passos. Longe dali, me veio na cabeça à
curiosidade de saber com quantos homens já a possuiu. Vários, de certo. Muitos já devem ter se lambuzado com aquela mulher. Ainda sim, mesmo por esses
motivos, não conseguia rejeitá-la. Pelo contrário, meu desejo pelo doce perfume
só aumentou. Fato intrigante, é que, com apenas um homem minha ex-esposa se
deitou, e só por isso, a reneguei. Vi-me em extrema contradição, desejando uma
mulher que se deita com muitos, e deixando de lado, outra que apenas com um, me
traiu. Meu martírio constante. Devo eu, ir atrás daquela que, denomino puta?
Olhei para trás, ainda de longe podia vê-la, em pé, na mesma esquina. Andei alguns passou. Perto de
mim, havia um mendigo, cuja idade me parecia longa. Percebendo minha agonia, me
perguntou:
“O
que te inquietas?”
“Estou
em dúvida sobre a escolha da minha amada.” (Respondi sem medo)
“Pobre
homem. Qual o seu medo?” (Perguntou-me o velho).
“Não sei qual o meu medo.” (Falei com a voz tremula)
“
O homem que não conhece seus medo, não conhece a si próprio.”
“
E qual o seu medo?” ( Perguntei em súbito)
“
Meu maior medo é entregar minhas fraquezas à alguém e me tornar vulnerável, uma
pessoa fraca e insegura.”
Não
sabia mais o que falar, aquela resposta havia me impactado, aquelas palavras me
soaram como um anestésico. Afastei-me dali aos poucos. Corri para longe. Longe
da puta. Longe do velho. Depois disso tive a certeza que jamais devo me deixar
enfraquecer assim.