segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

VERDE PASSAGEIRO


     Desde pequena afoita e birrenta, do interior do Piauí, Helena sonhava na Cidade Verde ir morar, juntou dinheiro e a tralha inteira com 20 anos em Teresina foi viver. Pôs as trouxas nas costas, a sorte na cidade foi tentar. Em uma noite de dezembro pegou carona com um cargueiro desconhecido, levou chuva e vento frio. Não lhe deram agasalho nem cobertura. Ansiou pelo clarão da lua, mas só chuva lhe vinha. Com viagem de longo tamanho, seus medos enfrentou, refletiu sobre sua vinda, e se encolheu com pranto nobre.  Logo nem amanhecia, na sarjeta ensopada de Teresina foi despejada. Não conhecia nada, nem ninguém. Saiu caminhando, até raiar o dia. Pediu ajuda a São Francisco. Sua prece era vão. E nas sujas calçadas ela andou.  Subiu no primeiro ônibus que passara. Juntou algum trocado para pagar. Sento numa cadeira, daquelas mais altas, colocava a cabeça para fora da janela e procurou por aquilo que veio buscar. Não achando o que queria, Helena foi logo tratando de perguntar para algum sujeito, se ali era Teresina. Ao confirmar a resposta, ela logo estranhou. Resolveu esperar. A lotação do ônibus veio em seguida, todos apertados, quase sem respirar. Não acostumada com aquilo, ficou no canto, calada, pois nem se mexer podia. Depois de vazio novamente, ela resolveu descer daquele veículo.
     Por entre os carros da avenida movimentada foi passar. Assustada com tanto barulho, ainda procurava aquilo que veio contemplar. Sentiu fome. Na lanchonete da esquina, garapa de cana foi tomar. Em desespero, percebeu que sua trouxa, dentro do ônibus havia ficado, pôs a mão na cabeça, gritou “ave maria’’ e então se desembestou. Sem saber como pagar, dalí saiu correndo. E se lembrou de tantas carreiras que dava para fugir da surra da mãe quando criança. Mas quando Helena olhou para trás não havia mais ninguém a perseguindo. Não cansada de tanto azar, recuperou o fôlego e se agravou da situação. Sentou no banco da praça junto com os pombos. Ela jamais os tinham visto assim, tão de perto. E desejou ter azas como eles, e ser leve também. Então chorou até soluçar. Chamou a atenção do homem que ali passava e do lado dela ele sentou. Perguntou por que tamanha tristeza. Então ela explicou: que veio para Teresina, achando que a veria a cidade verde, mas não, as tamanhas arvores já não estavam mais ali. Ele então bobo, riu da inocência da moça. Mas sabia que era verdade, que naquela cidade o verde de outrora se acabou. O homem tão perverso o consumiu. Porém o moço olhou bem no fundo dos olhos de Helena e disse que nessa cidade nunca houvera  algo tão verde que o olhar dela. Saíram os dois, contentes de ver a vida.        (Ítalo Lima)

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