Desde pequena afoita
e birrenta, do interior do Piauí, Helena sonhava na Cidade Verde ir morar,
juntou dinheiro e a tralha inteira com 20 anos em Teresina foi viver. Pôs as
trouxas nas costas, a sorte na cidade foi tentar. Em uma noite de dezembro pegou
carona com um cargueiro desconhecido, levou chuva e vento frio. Não lhe deram
agasalho nem cobertura. Ansiou pelo clarão da lua, mas só chuva lhe vinha. Com
viagem de longo tamanho, seus medos enfrentou, refletiu sobre sua vinda, e se
encolheu com pranto nobre. Logo nem
amanhecia, na sarjeta ensopada de Teresina foi despejada. Não conhecia nada,
nem ninguém. Saiu caminhando, até raiar o dia. Pediu ajuda a São Francisco. Sua
prece era vão. E nas sujas calçadas ela andou. Subiu no primeiro ônibus que passara. Juntou
algum trocado para pagar. Sento numa cadeira, daquelas mais altas, colocava a
cabeça para fora da janela e procurou por aquilo que veio buscar. Não achando o
que queria, Helena foi logo tratando de perguntar para algum sujeito, se ali
era Teresina. Ao confirmar a resposta, ela logo estranhou. Resolveu esperar. A
lotação do ônibus veio em seguida, todos apertados, quase sem respirar. Não
acostumada com aquilo, ficou no canto, calada, pois nem se mexer podia. Depois de
vazio novamente, ela resolveu descer daquele veículo.
Por entre os carros da avenida movimentada foi passar. Assustada
com tanto barulho, ainda procurava aquilo que veio contemplar. Sentiu fome. Na
lanchonete da esquina, garapa de cana foi tomar. Em desespero, percebeu que sua
trouxa, dentro do ônibus havia ficado, pôs a mão na cabeça, gritou “ave maria’’
e então se desembestou. Sem saber como pagar, dalí saiu correndo. E se lembrou
de tantas carreiras que dava para fugir da surra da mãe quando criança. Mas
quando Helena olhou para trás não havia mais ninguém a perseguindo. Não cansada
de tanto azar, recuperou o fôlego e se agravou da situação. Sentou no banco da
praça junto com os pombos. Ela jamais os tinham visto assim, tão de perto. E
desejou ter azas como eles, e ser leve também. Então chorou até soluçar. Chamou
a atenção do homem que ali passava e do lado dela ele sentou. Perguntou por que
tamanha tristeza. Então ela explicou: que veio para Teresina, achando que a
veria a cidade verde, mas não, as tamanhas arvores já não estavam mais ali. Ele
então bobo, riu da inocência da moça. Mas sabia que era verdade, que naquela
cidade o verde de outrora se acabou. O homem tão perverso o consumiu. Porém o
moço olhou bem no fundo dos olhos de Helena e disse que nessa cidade nunca
houvera algo tão verde que o olhar dela.
Saíram os dois, contentes de ver a vida.
(Ítalo Lima)
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