Certa vez, em
um desses sonhos de Alice, o Inverno se apaixonou pela Primavera, ele calou-se
diante de tal sentimento, jurou segredo para consigo mesmo. Tão gentil com ela
era, lhe trazia chuva quando pedia, e no terceiro mês do ano ele via contente a
chegada da dela. Primeiro os botões de rosas surgiam, deles se abriam lindas
flores, com aromas de beijos de amores, e o orvalho percorriam as peles das
lindas rosas, naquele instante o Inverno podia sentir a delicadeza da
Primavera, satisfeito com tal toque, ele então trazia chuvas em abundancia,
para todos os dias tocar novamente nela. Ingênua, de riso frouxo, ela não
entendia todo aquele afeto, não tinha olhos para nada, apenas para o Verão seu
amor dedicava. O Inverno ciente de seu amor platônico respeitava tal escolha,
amava em silêncio a bela Primavera. Os meses se iam.
Em cargo de
tal paixão, o Verão não valorizava tal posse, abandonava a Primavera quando as
flores vinham a murchar, renegava tal amor. Para ele não convinha a flácida
aparência. Ela entedia tal fardo, desabrochava contente, crente que voltaria
revigorada. O Inverno de longe lamentava, calado com tal injustiça. E vinha o Outono, trazendo bons frutos e boas
novas. E assim se dava esse ciclo vicioso.
Então, o
Inverno cansado de tal mesmice, não aguentando tamanho sufoco, criou coragem e
se declarou para a Primavera, presenteou-a com arco-íris e beija-flores.
Receosa com tal declaração, ela se fez difícil, quase não sedia, até que então
se entregou a esse amor proibido. Amaram-se os dois. E o vento se fez mais
forte, e as flores no apogeu de seus aromas, se fez mais firme com tal ventania,
as rosas se encheram de vida com jamais haviam antes, então o dia se fez mais
longo, e na vigésima quinta hora vigente do dia os dois se deram contente. O
Verão praguejou contra os dois amantes, enraivado com tal traição, ele se
entristeceu conformado.
Eis que
chegada a hora, a Primavera se fez mais flácida. O Inverno viveu na pele o
horror daquela cena, ela que era tão bela e macia, agora se pôs na frente dele
murcha e enfraquecida. Não aguentando tal horror o Inverno se fez maldoso, lhe
virou as costas, sem despedidas. Saiu sem culpa, porem satisfeito de tê-la
possuído ao menos um vez. E a Primavera desabou sem vida. (Ítalo Lima)
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