segunda-feira, 15 de abril de 2013

A FEIURA DA ALMA ALHIEA


    Em uma dessas idas promiscua na noite fútil da cidade, eu, que por obrigação me via ali, naquela festa, em meio a ostentações, delírios e falsidades, preferia eu andar só, por opção minha, me via ali pelo simples motivo: odiava a solidão, não dessas, de um ser sozinho em um quarto escuro de um sábado qualquer, mas daquela solidão de alma, daquele vazio anorexo, inflamável e permanente. As luzes ofegantes da festa reluziam em meu corpo estático, muitos se esbarravam em mim, eu fingia demência. Nada ao meu redor vingava, não sei o que havia em mim, que nada progredia.
     Foi que no auge do som dançante, encontrei aquela, que me roubou a atenção perdida: eu temia olhos nos olhos, ela temia me encarar, ainda sim eu a olhava incansáveis vezes e já olhava possuído de desejos. Então o fuzil rentável do meu ser dilacerante chacinou a moça indefesa, ela incomodada veio até a mim:
     - O que você está fazendo? (Perguntou-me assustada)
     - Apaixonando-me. (Disse contente de riso frouxo). Não é assim que as pessoas se apaixonam? Não parando de se olhar? 
     Ela me olhou com desdém e saiu reinando desprezo. Eu fiquei ali, desacudido, sem estrutura interna, aturdido. Sai dali decepcionado, cheguei em casa não sei como, para aquele quarto frio e vazio, cai flácido na cama, minha alma ali se via dolorida, descontente com tudo. Adormeci ferido. Ao raiar do dia, o espelho do meu quarto reluzia duplamente um apático ser destruído, vi duas imagens, uma de meu corpo físico, outra, de minha alma em agonia. Percebi então o sentido de tudo.
     Hoje em dia, ninguém mais proclama a alma do próximo, todos cultivam a aparência sadia, sem manchas escuras, de um branco sorriso demagogo. E assim caminham os seres achando fluir da perfeição firme no peito, não sabendo eles, que a beleza maior se finca na alma. Assim todos procuram a cura da aparência física, espelhando-se na retórica grega. Ninguém atenta à cura da alma. Minha aparência não agrada, minha alma anda estraçalhada, assim vejo no espelho, ninguém quis cura-la, pois todo mundo tem medo da feiura alheia.  (Ítalo Lima – 08/04/2013)

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