Em uma dessas idas promiscua na
noite fútil da cidade, eu, que por obrigação me via ali, naquela festa, em meio
a ostentações, delírios e falsidades, preferia eu andar só, por opção minha, me
via ali pelo simples motivo: odiava a solidão, não dessas, de um ser sozinho em
um quarto escuro de um sábado qualquer, mas daquela solidão de alma, daquele
vazio anorexo, inflamável e permanente. As luzes ofegantes da festa reluziam em
meu corpo estático, muitos se esbarravam em mim, eu fingia demência. Nada ao
meu redor vingava, não sei o que havia em mim, que nada progredia.
Foi
que no auge do som dançante, encontrei aquela, que me roubou a atenção perdida:
eu temia olhos nos olhos, ela temia me encarar, ainda sim eu a olhava
incansáveis vezes e já olhava possuído de desejos. Então o fuzil rentável do
meu ser dilacerante chacinou a moça indefesa, ela incomodada veio até a mim:
-
O que você está fazendo?
(Perguntou-me assustada)
-
Apaixonando-me. (Disse contente de
riso frouxo). Não é assim que as pessoas
se apaixonam? Não parando de se olhar?
Ela
me olhou com desdém e saiu reinando desprezo. Eu fiquei ali, desacudido, sem
estrutura interna, aturdido. Sai dali decepcionado, cheguei em casa não sei
como, para aquele quarto frio e vazio, cai flácido na cama, minha alma ali se
via dolorida, descontente com tudo. Adormeci ferido. Ao raiar do dia, o espelho
do meu quarto reluzia duplamente um apático ser destruído, vi duas imagens, uma
de meu corpo físico, outra, de minha alma em agonia. Percebi então o sentido de
tudo.
Hoje
em dia, ninguém mais proclama a alma do próximo, todos cultivam a aparência
sadia, sem manchas escuras, de um branco sorriso demagogo. E assim caminham os
seres achando fluir da perfeição firme no peito, não sabendo eles, que a beleza
maior se finca na alma. Assim todos procuram a cura da aparência física,
espelhando-se na retórica grega. Ninguém atenta à cura da alma. Minha aparência
não agrada, minha alma anda estraçalhada, assim vejo no espelho, ninguém quis
cura-la, pois todo mundo tem medo da feiura alheia. (Ítalo Lima – 08/04/2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário