Automóvel intacto, alvo, com números expostos por
todo o seu corpo. Era assim o táxi de Sérgio. Estava na profissão há quase 20
anos, com orgulho de bater no peito do que faz. Com muitas histórias que ouve
de tantos clientes, eis uma que vale a pena ser contada e repetida.
Era um daqueles sábados movimentados, cheios de
festas em Teresina. Eram mais de dez da noite quando adentraram dentro do carro
dois homens, um mais novo que outro, sentaram no banco de trás. Sérgio
perguntou o destino dos dois, responderam apenas “siga em frente”. Sérgio achou
estranhou, os observava pelo retrovisor, vez ou outra. Houve um silêncio
tremendo dentro do carro, o rompimento disso vinha apenas no chiado do rádio do
taxista, que chegava a ser enfadonho.
O diálogo iniciou entre os dois homens de trás, eram
pai e filho. Havia uma tensão no falar do pai, um tremor na voz dele. O filho
só escutava. O pai tentava falar algo, mas parecia que estava engasgado,
sufocado, as lagrimas desceram, o filho não entendia o que estava acontecendo. Sérgio
sentiu pena do homem que chorava feito uma criança. E seguiam sem rumo.
O pai tentava explicar o quanto era difícil a
situação, que o limite havia chegado, que nada poderia conter esse desejo que
estava tomando de conta dele. E no auge da sua agonia, o pai não contendo as
lágrimas no rosto, falou em um tom de alívio, como quem suspira pela ultima
vez: “Filho, eu sou gay”. O silêncio
pairou no ar. Sérgio engoliu a seco.
“Gay, como
assim pai?” O pai não soube explicar o por que, só sabia que
era assim, que nada podia calar os desejos do corpo e da alma, que há pessoas
que demora um certo tempo para aceitar uma determinada condição, principalmente
quando ela é vista com olhos preconceituosos.
O filho pediu para parar o carro, desceu as pressas. O pai, ainda em
pranto, jogou uma nota de cinquenta reais no meu colo, não pediu troco. Desceu
em busca do filho
Sérgio ficou ali, pensativo, imaginando a
controvérsia da situação. Hoje em dia há tantos filhos gays sendo aceitos pelos
pais ou família, também há o contrário, filhos sendo rejeitados, na esperança
de um dia serem aceitos pelos pais. Tenho certeza que se fosse você o gay da
historia, você gostaria de ser aceito também. Mas, e se fosse seu pai gay, você
o aceitaria? (Ítalo Lima)
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