segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sereia de Dois Gêneros


João era aquele que pescava no mar em noites frias, antes mesmo de amanhecer, para casa retornava. Sua mulher já o esperava, cheio de risos e amores, e os dois se davam cedinho, meio que de mansinho, até se saciarem. No final, ele se virava de lado, adormecia cansado na cama, e de tudo esquecia. Acordava no fim da tarde, se alimentava e para o mar saia. Eram assim todos os dias.
Eis que um dia, numa clara noite de lua, solitário em alto mar sombrio, o pescador em pensamentos perdidos avista uma sereia deitada numa pedra fria, cantando sons de amores, e a voz a enfeitiçar. Presunçoso que só vendo, João não crendo naquilo que via, tampou os olhos e rezou o pai-nosso em agonia. Não resolvendo tal dilema, resolveu se aproximar da jovem moça. Sem temer mal algum, tocou-lhe o rosto e percebeu, que a sereia calma lhe sorria, cantos ditosos de alegria da sua boca emanava. Encantado com tal proeza, não acreditou no que estava vendo. A sereia percebendo tal espanto, se apresentou como Dalila, pediu a ele que não tivesse medo, que mal algum lhe podia fazer. Aliviado de algum modo, o pescador também conseguiu falar, apalpou-a na pele, certificando ser real. Rindo de tal ação, ela confessou que a dias o observara, porem cansada desse desejo lancinante, logo resolveu se aparentar.  Percebendo tal satisfação no  olhar do moço, ela o beijou com tamanha alegria, e os dois não se contiveram de prazer, se entregaram na pedra fria. Os corpos nus se embrenharam em folia, e era ela, sim, era ela que o possuía.
João, sem jamais ter visto algo assim, se apaixonou perdidamente pelo ser mitológico. Depois de navegar no corpo da moça de louça, ele partiu sem vontade. Em casa, sua mulher logo estranhou o marido, não houve sexo como de costume, ela se insinuou para ele, houve frustração logo em seguida, descontente, a mulher pôs-se chorar. João sem entender o que estava havendo, só desejava a sereia branca. Não aguentando tal ansiedade, partiu mais cedo para o mar. Tão sedento pela sereia estava, que nem notara o pranto da sua esposa. Foi para o mar com vontade. Chegando no local de outrora, na mesma pedra que testemunhou tal libido, sentou-se contente e feito moleque sapeca, esperou pelo brinquedo. E as horas se passaram em lamento, não houve traços de sereia, nem canto ao seu redor. Dois dias se passaram, ele cansado de tal tormento, voltou para casa em desalento.
     Decepcionado com tal descaso, chegou em casa na surdina, entrou no quarto com os pés descalços, logo se assustou com o parecer de tal cena: sua mulher, coisa louca, cavalgando no corpo de um jovem branco, com gemidos abafados, tal prazer era notado, mas ao frisar seu olhar no moço branco, logo identificou, que era a sereia de louça, com escamas grossas e traços de outro gênero, oh sucumbido, era homem tal engenho. Havia João também se emaranhado com o jovem moço? Não aguentando tal sofrimento, saiu dali sem ser notado, pegou uma arma escondida, voltou para o quarto em passos curtos e atirou no ser mitológico. Não contido de tanta raiva disparou outros tiros na sereia de dois gêneros. Depois de a adrenalina ter partido, João pode ver que, quem jaz sagrando na cama, era sua mulher com lagrimas caída, não havia mais ninguém junto dela na cama. Só os dois no triste quarto do pescador. (Ítalo Lima) 

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